Os óleos essenciais são substâncias voláteis extraídas de plantas aromáticas, concentrando em cada gota a essência química e olfativa da planta de origem. Eles representam a “alma” da planta: seu aroma característico e seus princípios ativos terapêuticos.

A composição química de um óleo essencial depende de diversos fatores: espécie botânica, clima, altitude, estação de colheita, e até o tipo de solo.

Mesma espécie de planta, mesmo aroma e mesma concentração de ativos? Não!

Um exemplo marcante é o da planta absinto (Artemisia absinthium). No início, artesãos e perfumistas notaram que plantas da mesma espécie, cultivadas em regiões diferentes, produziam aromas distintos. O óleo essencial extraído na Suíça apresentava um aroma mais herbal e amargo, enquanto o produzido na França tinha um perfume mais doce.

Essas diferenças levaram os pesquisadores a investigarem os fatores que poderiam causar essa variação. Análises químicas feitas no século XIX e, mais detalhadamente, no século XX com o uso de cromatografia gasosa e espectrometria de massas revelaram que os níveis de tujona (um dos compostos ativos e tóxicos do absinto), por exemplo, variavam significativamente dependendo do tipo de solo, clima, altitude e condições de cultivo.

Outro exemplo clássico: o “terroir” das plantas aromáticas

Assim como acontece com o vinho, os óleos essenciais também possuem seu “terroir” — o conjunto de fatores geográficos e ambientais que influenciam as características do produto final.

Plantas de lavanda colhidas na Alta Provença, na França, produzem óleos com maior teor de linalol e menor de cânfora, enquanto as cultivadas em altitudes mais baixas desenvolvem perfis mais canforados e intensos. Portanto, há uma variação aromática e de concentração de ativos-chaves de acordo com a geolocalização do terreno e a sua composição. Não é incomum ver no mercado brasileiro a venda da chamada Lavanda 40/42, que simula, por meio de um de blends de óleos de lavanda, a lavanda francesa, a fim de garantir a concentração mínima dos ativos que são responsáveis pelo efeito “calmante” (linalol e acetato de linalila).

No caso do absinto, solos mais calcários resultam em óleos com maior concentração de certos monoterpenos, enquanto solos mais argilosos ou ricos em matéria orgânica podem elevar o teor de lactonas ou sesquiterpenos, alterando o cheiro e até a segurança do uso.

Essas variações fazem com que a origem geográfica do óleo essencial seja um dos critérios mais importantes para a escolha do produto em perfumaria fina e fitoterapia. Ao escolher um óleo, saber de onde ele vem é tão importante quanto saber qual planta foi usada.

Métodos de extração: do tradicional ao moderno

Os métodos mais comuns de extração de óleos essenciais incluem:

Métodos mais antigos incluem a enfleurage e a extração por solvente, usados especialmente para flores delicadas como jasmim, onde o calor poderia destruir os compostos aromáticos. Quem viaja ao sul da França, principalmente à região de Grasse, pode ter o prazer de conhecer os locais onde os franceses tradicionalmente faziam a enfleurage. Um processo artesanal delicado e encantador.

Atualmente, técnicas como extração supercrítica por CO₂ estão em ascensão, pois preservam uma gama mais ampla de compostos da planta sem deixar resíduos tóxicos.

Curiosidades: óleos essenciais e espiritualidade

A utilização de óleos essenciais não se limita ao bem-estar físico. Na tradição cristã, seu uso é histórico e simbólico. A Bíblia registra diversas passagens:

Até hoje, a Igreja Católica utiliza óleos essenciais em diversos ritos. O óleo do crisma, usado no batismo, confirmação e ordenação sacerdotal, é perfumado com bálsamo e outros aromas. O incenso litúrgico, com notas de olíbano (frankincense) e mirra, é preparado com resinas aromáticas. Recentemente, o próprio Vaticano tem utilizado óleos essenciais na limpeza e restauração de obras de arte expostas nos Museus do Vaticano, graças às suas propriedades antimicrobianas.

Os óleos essenciais são muito mais do que fragrâncias agradáveis. Eles cruzam a fronteira entre ciência, tradição e espiritualidade. Sua produção envolve conhecimentos botânicos e químicos. Seja para fins terapêuticos, litúrgicos ou artísticos, seu uso permanece tão atual quanto ancestral.